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No carnaval, deputados ouvem base e ruas para sentir apoio à Previdência

O carnaval da política está a pleno vapor. Deputados e senadores estão concentrados em suas bases eleitorais para aproveitar a maior festa popular do país, mas nem tudo é diversão. Com a discussão da reforma da Previdência pela frente, o abre-alas das bancadas tem como foco captar o nível de apoio da sociedade. Quando saem às ruas, os congressistas ficam atentos ao clima dos foliões em relação à Proposta de Emenda à Constituição (PEC). A ordem vem da comissão de frente das legendas, ou seja, dos líderes partidários.

Mesmo entre amigos e familiares, as lideranças seguem em ação. “O Congresso para, mas continuamos trabalhando”, afirma o deputado Paulo Martins (PSC-PR), líder do partido na Câmara. O parlamentar brinca que é cobrado por colegas e a mulher para deixar o trabalho em segundo plano, mas garante: o dever tem falado alto. “Continuo conversando com a bancada por telefone. Estou aproveitando as festividades para relaxar e trabalhar, porque não dá para ficar parado, sabendo da guerra que vem pela frente”, explica.

Assim como Martins, congressistas do PSC e de outras legendas se dividiram entre o descanso e a responsabilidade parlamentar. O próprio contato com os eleitores nas ruas é visto como um momento para trabalhar. Invariavelmente, os parlamentares vão dedicar parte do carnaval para fazer pesquisas qualitativas com a sociedade, comenta o deputado Daniel Coelho (PPS-PE), líder da sigla na Câmara. “Os deputados são abordados a todo o momento. Seja por uma cobrança, seja para tirar dúvidas. É aí que vamos aproveitar para medir o apoio à reforma”, destaca.

O contato entre parlamentares e eleitores em períodos festivos é sempre um termômetro para medir o desempenho legislativo e a aceitação a pautas em debate no Congresso. No caso da Previdência, a mãe das reformas, Coelho prevê uma cobrança maior. “Já notamos muito mais dúvidas do que certezas. Não há opinião consolidada sobre o tema, e isso não é ruim. Vamos coletar os anseios e os questionamentos no supermercado, na padaria ou em uma cafeteria, para termos uma noção do que as ruas têm a dizer sobre a reforma”, comenta.

Mais conversas

Munidos de análises qualitativas que as ruas darão, a ideia é que parlamentares permaneçam em diálogo com os líderes, dando retorno sobre o clima em torno da reforma ainda durante o carnaval. Na volta às atividades parlamentares, as lideranças se reunirão com suas bancadas para debater os passos seguintes em relação à tramitação do texto.

Além das qualitativas, as bancadas se cercarão de análises técnicas contrárias e favoráveis à reforma e farão monitoramento das redes sociais para ter uma melhor noção da temperatura em torno da reforma. Munidos das informações, as lideranças já planejam reuniões com o ministro da Economia, Paulo Guedes, e com o secretário especial da Previdência Social, Rogério Marinho.

Diálogo com a articulação política à parte, os grupos partidários não se mostram sensíveis a votar cegamente com o governo sem tirar dúvidas com a equipe econômica antes. “Eu já pedi uma reunião com o Marinho para esclarecer algumas dúvidas, como a idade mínima. A média de idade da aposentadoria já é de 65 anos. Então, precisamos entender por que estabelecer essa idade para homens”, comenta Coelho.

Monitoramento

A alegoria do governo também estará a postos. O presidente Jair Bolsonaro permanecerá concentrado na residência oficial, no Palácio da Alvorada, em Brasília, e não na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, onde tem uma casa em um condomínio. Não vai abrir mão de tomar uma cerveja ou outra, mas com parcimônia. Continuará conversando com parlamentares e ministros pelo WhatsApp.

O presidente estará em contato a todo momento com os responsáveis pela articulação política: o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni; a líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP); e o líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO). Os três terão a missão de monitorar a fervura aliada durante o período da folia.

A avaliação do governo é de que não haverá necessidade de acionar os bombeiros da interlocução política para apagar algum foco de incêndio na base aliada que começa a ser construída. Mas o monitoramento será necessário. O aceno de Bolsonaro em ceder a pontos na reforma da Previdência não foi bem digerido por todas as bancadas. A posição do presidente em admitir rever a regra da idade mínima das mulheres de 62 anos para 60 não era sequer um pleito defendido pelas lideranças.

O aceno de Bolsonaro dividiu líderes. Uns acharam o recuo positivo, um sinal de que está aberto ao diálogo e mantém a avaliação de que “reforma boa é a que passa”. Outros, entretanto, acreditam que passa um sinal de enfraquecimento. “Não estava no horizonte ceder sem os debates sequer terem começado. Aceitar mexer na idade mínima, que é a espinha dorsal da reforma, passa incerteza sobre o que o governo quer. Isso expõe a liderança de sustentação ao texto”, analisa um líder.

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