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Comentário de Bolsonaro contra jornalista provoca critica de OAB e associações de imprensa

Um comentário do presidente Jair Bolsonaro numa rede social contra uma jornalista gerou muitas críticas. Bolsonaro se baseou em informações publicadas originalmente num site francês, mas o próprio site disse nesta segunda-feira (11) que as informações são falsas.

O presidente Jair Bolsonaro fez o comentário em uma rede social. Escreveu:

“Constança Rezende, do “O Estado de SP’ diz querer arruinar a vida de Flávio Bolsonaro e buscar o impeachment do presidente Jair Bolsonaro. Ela é filha de Chico Otavio, profissional do ‘O Globo’. Querem derrubar o governo, com chantagens, desinformações e vazamentos”.

O presidente se baseou em uma publicação de um site de apoiadores dele. Bolsonaro republicou uma gravação postada no site, que mostra a interpretação distorcida de uma resposta em inglês da repórter durante uma conversa com um suposto estudante interessado em fazer um estudo comparativo entre Donald Trump e Jair Bolsonaro.

Antes da postagem do presidente, o jornal “O Estado de S.Paulo” já havia publicado um esclarecimento dizendo que o site citado por Bolsonaro distorceu o conteúdo da entrevista da repórter.

O jornal informou que Constança não fala em “intenção” de arruinar o governo ou o presidente. A conversa, em inglês, tem frases truncadas e com pausas. Em determinado momento, a repórter avalia que “o caso pode comprometer” e “está arruinando Bolsonaro”, mas não relaciona seu trabalho a nenhuma intenção nesse sentido.

O conteúdo desse áudio havia sido divulgado no começo de março no blog do jornalista que atua na França, Jawad Rhalid. O jornal “O Estado de S.Paulo” esclareceu também que a jornalista Constança Rezende não deu entrevista em conversou com o jornalista francês.

“O Estado de S.Paulo” afirmou ainda que o site brasileiro falsamente atribui à repórter a publicação da primeira reportagem sobre as investigações do Coaf, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras, sobre a movimentação atípica nas contas do ex-assessor de Flávio Bolsonaro.

Um relatório do Coaf apontou no fim de 2018 transferências atípicas feitas por Fabrício Queiroz. Ele movimentou R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017. Queiroz foi assessor na Assembleia Legislativa do Rio de Flávio Bolsonaro, filho do presidente e hoje senador pelo PSL.

Outro relatório do Coaf apontou transações bancárias suspeitas na conta de Flávio, entre junho e julho de 2017. O relatório detalhou 48 depósitos em dinheiro no valor de R$ 2 mil cada um na conta de Flávio Bolsonaro.

Segundo o blog do jornalista Ruben Berta, Fernanda Salles Andrade, que assina o texto do site compartilhado por Bolsonaro, ocupa cargo no gabinete do deputado estadual de Minas, Bruno Engler, do PSL. O Jornal Nacional também confirmou essas informações.

Segundo o jornal “O Estado de S.Paulo”, o site dos apoiadores de Bolsonaro voltou a atacar a jornalista utilizando-se de conteúdo falso. Publicou duas mensagens retiradas de um perfil que não era da repórter.

No fim da tarde, o site francês Mediapart, que hospeda o blog de Jawad Rahlid, afirmou que se solidariza com a jornalista vítima de ameaças e afirma que as informações publicadas no Mediapart, que serviram de base para o tweet do presidente @jairbolsonaro, são falsas. Disse ainda que o artigo é de responsabilidade Jawad Rahlid e o blog é independente da redação do jornal.

Em nota, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) afirmaram que “o presidente Jair Bolsonaro fez um novo ataque público à imprensa, desta vez valendo-se de informações falsas. Isso mostra não apenas descompromisso com a veracidade dos fatos, o que em si já seria grave, mas também o uso de sua posição de poder para tentar intimidar veículos de mídia e jornalistas, uma atitude incompatível com seu discurso de defesa da liberdade de expressão”.

A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão, a Associação Nacional de Editores de Revistas e a Associação Nacional de Jornais afirmaram que “lamentam que o presidente da República reproduza pelas redes sociais informações deturpadas e deliberadamente distorcidas com o sentido de intimidar a jornalista e a liberdade de expressão”.

Abert, Aner e ANJ destacaram que “os ataques à repórter têm o objetivo de desqualificar o trabalho jornalístico, fundamental para os cidadãos e a própria democracia” e “que a tentativa de produzir na imprensa a imagem inimiga ignora o papel jornalístico independente de acompanhar e fiscalizar os atos das autoridades públicas”.

Especialistas afirmam que a disseminação de informações falsas, as chamadas fake news, é um dos principais desafios a serem enfrentados hoje, porque prejudica a tomada de decisões e coloca a democracia em risco.

Pesquisa publicada na revista americana Science, feita entre 2006 e 2017 com mais de 126 mil notícias, concluiu que a probabilidade de uma fake new ser compartilhadas na internet é até 70% maior do que a de uma notícia verdadeira. Elas se espalham mais rapidamente e alcançam um maior número de pessoas.

O deputado Bruno Engler, do PSL, admitiu que a assessora dele é a responsável pela publicação no site brasileiro, mas disse que Fernanda Salles Andrade apenas reproduziu reportagem de um jornal americano.

O Palácio do Planalto não quis se manifestar sobre o assunto.

Fonte: Jornal Nacional

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