País onde padre chama homossexuais de veadinhos, rapaz vai às compras com uma suástica no antebraço, senador defende governo fascista desde que tenha “as mãos limpas” e casal branco suspeita de negro inocente no comando de uma bicicleta elétrica, por que um país como esse daria as costas ao presidente que tem?
Não será fácil derrotá-lo na eleição do ano que vem, é o que começam a admitir aos sussurros ou abertamente seus mais ferrenhos adversários. Não é para dissipar o clima do já ganhou que toma conta da parte desavisada da oposição que eles dizem isso, é porque de fato reconhecem que não será fácil mesmo.
O bolsonarismo era um vírus adormecido nas entranhas de uma parcela expressiva dos brasileiros de todas as classes sociais e de todos os pontos do país. O vírus despertou ao ouvir o discurso do ex-capitão indisciplinado que antes só falava às paredes do Congresso e a áreas do Estado que o alimentava com votos.
A rendição à pandemia que veio de fora pode ter enfraquecido o dono do discurso que perdeu apoio com a morte de quase 500 mil pessoas em pouco mais de um ano, sem falar dos mais de 17 milhões de infectados. Mas o discurso em si continua forte, sem que tenha diminuído o número dos que se sentem atraídos por ele.
À medida que a eleição se aproxima, embora ainda falte um ano e quatro meses para a abertura das urnas, revela-se o tamanho do estrago provocado pelo vírus do bolsonarismo. Nenhum partido está imune aos seus efeitos malignos, nenhuma instituição, nenhum credo, nenhum segmento social ou econômico.
Vírus não morre. A maioria aparece e volta às matas de onde saiu, como o Ebola, por exemplo. Contra alguns, descobrem-se vacinas capazes de erradicá-los para sempre. Mas, devido à falta de cuidados, nada impede seu retorno. A história é feita de ciclos, e está provado que eles demoram a se esgotar.
O futuro da democracia brasileira estará em jogo em 2022. E ele nunca pareceu tão incerto.
Da redação com o Metrópoles