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Pazuello queria mais vacinas no 2º semestre, disse Dominguetti ao pai

O cabo da Polícia Militar mineira Luiz Paulo Dominguetti relatou que o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello manifestou interesse em adquirir lotes de vacinas contra a Covid-19 oferecidas pela empresa Davati Medical Supply com o objetivo de abastecer o Programa Nacional de Imunizações (PNI) no segundo semestre de 2021. Os relatos foram feitos ao pai do PM via WhatsApp em conversas às quais o portal UOL teve acesso.

A troca de mensagens entre o PM e o pai, Paulo César Pereira, ocorreu em 23 de fevereiro deste ano, dia em que o policial afirma ter participado de reuniões na sede do Ministério da Saúde.

Na ocasião, a Davati tentava vender 400 milhões de doses da AstraZeneca/Oxford, oferta que acabou não se concretizando depois de um suposto pedido de propina do então diretor de logística do ministério, Roberto Ferreira Dias. Demitido do cargo, Dias nega ter cometido irregularidades. O governo argumenta que as conversas com o grupo representado por Dominguetti nunca passaram de tratativas iniciais

O suposto interesse expresso por Pazuello em adquirir vacinas da Davati para o segundo semestre se deu durante a tramitação da primeira oferta. Como não houve qualquer tipo de acerto, nada foi comprado.

O policial militar lotado em Alfenas (MG) e que atuaria como uma espécie de revendedor autônomo nas horas vagas é personagem central da polêmica negociação entre a União e a Davati — empresa com sede no Texas e sem presença formal no Brasil. Segundo Dominguetti, as negociações não avançaram após o pedido de propina.

O episódio foi revelado em reportagem do jornal Folha de S.Paulo, publicada em 29 de junho, e se tornou um dos principais objetos de apuração na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, no Senado. O pedido de propina teria sido de US$ 1 por dose, isto é, US$ 400 milhões. Os beneficiários seriam Dias (que perdeu o cargo após a repercussão inicial do caso) e terceiros vinculados a ele. Em depoimento à CPI dias depois, Dominguetti reafirmou a acusação.

Em troca de mensagens com o pai, entre os dias 16 e 26 de fevereiro, o cabo da PM relata o andamento das conversas com o Ministério da Saúde. As negociações ocorriam sob intermediação do coronel Marcelo Blanco (ex-assessor da pasta e citado na CPI da Covid como um dos elos entre a Davati e o governo) e de Guilherme Filho Odilon (parceiro comercial do policial).

Em 23 de fevereiro, com as negociações adiantadas e supostamente caminhando para um desfecho positivo, Dominguetti afirma ter comparecido ao prédio do Ministério da Saúde, em Brasília, para finalizar o acordo. Às 12h13, ele avisa ao pai: “Estou no ministério”. O interlocutor então questiona: “Tudo caminhando bem?”. “Simmmm”, responde o policial. Na sequência, ele afirma:

Pai – 23/2/21 – 13:44:04

“Fecha logo essa porteira”.

Dominguetti – 23/2/21 – 14:22:33

“Já está fechado Agora e o trâmites burocráticos”.

Pai – 23/2/21 – 14:24:30

“Excelente, você é 10. Parabéns! Deoois me dê detalhes. Estou muito contente!”

Dominguetti- 23/2/21 – 14:24:55

“Saindo daqui aviso.”

Dominguetti- 23/2/21 – 17:13:14

“Fui chamado pelo ministro pazuelo.”

Pai- 23/2/21 – 17:22:07

“Caraca! O que será que ele está querendo?”

Pai- 23/2/21 – 17:23:22

“Não esqueça, somos todos Bolsonaro!”

Dominguetti – 23/2/21 – 17:27:57

“Vacinas uai.”

Dominguetti – 23/2/21 – 17:27:57

“Kkk.”

O pai de Dominguetti pergunta então se o motivo da suposta reunião seria “mais”, isto é, um maior número de vacinas em relação ao que já estava sendo negociado.

O vendedor da Davati responde que o então ministro da Saúde gostaria de “fazer uma proposta comercial para [o] segundo semestre”. E completa: “Mais”. O pai reage com ironia: “Essa pandemia vai longe”.

Dominguetti – 23/2/21 – 17:30:06

“Acho que Brasília vai ser nosso novo la.”

Dominguetti – 23/2/21 – 17:30:09

“Lar.”

Dominguetti – 23/1/21 – 17:30:10

“Kkkk.”

Pai – 23/2/21 – 17:30:59

“Ainda tem vacina? Parece que é só você que vende rsrsrsrs Brasília é outro mund$.”

Dominguetti – 23/2/21 – 17:31:31

“Acho que gostaram do praça aqui.”

Dominguetti – 23/2/21 – 17:31:33

“Kkkkk.”

Pai – 23/2/21 – 17:32:47

“Isso é muito bom, vai abrir muitas portas. Logo você vai comprar uma lancha para por lá no lago Paranoá.”

Dominguetti – 23/2/21 – 17:33:57

“Kkkkk.”

Pai – 23/2/21 – 17:34:23

“É o Rei das Vacinas.”

Novas mensagens foram trocadas no dia seguinte, e Dominguetti reafirma as “melhores expectativas” quanto ao fechamento do negócio. Em 24 de fevereiro, ele teve ainda reuniões com outros potenciais compradores.

Um dia depois, em 25 de fevereiro, houve a reunião entre o representante da Davati e o então diretor de logística Roberto Ferreira Dias. Foi nesse encontro que ocorreu, de acordo com Dominguetti, o pedido de propina de US$ 1 por dose, que teria sido negado.

No restaurante, segundo declarou o policial à CPI, Dias afirmou: “Pensa direitinho que amanhã eu vou te chamar no ministério com uma nova proposta”. Nos diálogos via WhatsApp, porém, não há menção à cobrança de vantagem ilícita.

Dominguetti – 25/2/21 – 15:25:28

“Ministério janto hoje com secretário executivo que assina os contratos.”

Dominguetti – 25/2/21 – 15:26:03

“Aí acabou.”

Dominguetti – 25/2/21 – 15:26:06

“No ministério.”

Dominguetti – 25/2/21 – 15:26:23

“Posso volta ao nosso querido e provisório lar em tc.”

Dominguetti – 25/2/21 – 15:26:25

“Kkk.”

Cauteloso, o pai questiona se o filho achava que não teria “problema” (não há um contexto que ajude a esclarecer a que tipo de “problema” ele se referia). Dominguetti retruca com confiança: “Só soluções”.

Na noite de 25 de fevereiro, supostamente após o jantar com Dias, o cabo da PM mineira envia mensagem em tom de confirmação, mas se equivoca em relação ao número de doses.

Dominguetti – 25/2/21 – 21:16:56

“Ministério e nosso.”

Dominguetti – 25/2/21 – 21:16:56

“500 milhões.”

Dominguetti – 25/2/21 – 21:16:56

“Doses.”

Dominguetti – 25/2/21 – 21:17:08

“Acabamos de doar 20 milhões de seringas.”

Dominguetti – 25/2/21 – 21:17:53

“Ganhei um passaporte diplomático da ONU.”

Pai – 25/2/21 – 21:18:28

“Doou para o governo. Passaporte PUTZ! Você tá que tá.”

Da redação com o Metrópoles

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